Cedofeita

Cedofeita é uma das mais antigas freguesias do concelho do Porto. Vejamos os textos seguintes, que são prova de toda a sua  longa história.

Origens

Dos estudos realizados, tudo aponta para que as origens da freguesia estejam associadas ao primitivo povoado que nasceu, se desenvolveu e prosperou à sombra tutelar da antiga igreja românica, que ainda hoje existe no Largo do Priorado e que pertenceu a um convento de Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. A construção da igreja é anterior à da própria Sé Catedral, sendo provavelmente a mais antiga igreja do Porto, construída quando Portugal ainda nem sequer existia politicamente. Aqui ocorreu a conversão em massa do povo Suevo, anos antes dos Francos,com Clovis. Diz, quem sabe destas coisas, que a Norte do Douro a igreja românica de Cedofeita é o único monumento do género que nos ficou do período medieval.

Durante a vigência moura, a igreja de Cedofeita foi o único templo cristão da área de jurisdição sarracena em que, sem qualquer interrupção, sempre se celebrou o santo sacrifício da missa, mediante um tributo que os cónegos pagavam às autoridades mouriscas. Esse consentimento foi dado através de uma «Carta de Jusgo», palavra muito utilizada pelos antigos significando «Justiça», «Perfeita», «Observância total das leis», «Igualdade», «Sossego», «Paz». Era do seguinte teor a referida «Carta de Jusgo»:

“Abdelassis Abhrem Mahomet, por illah illalah senhor da cidade do Porto, e da gente da Nazareth, pela qual ordeno que os Presbíteros e Christâos do Mosteiro de Cedofeita que morão junto à dita cidade do Porto, e seu mosteiro possuão os seus bens em paz e quietação sem opressão, vexame. ou força dos Sarracenos; com a condição que não digão Missas senão com as portas fechadas e não toquem as suas campainhas; e paguem pelo consentimento 50 pesantes de boa prata anualmente e pos-são sair e vir à cidade com liberdade e quando quizerem, e não vão fora das terras do meu mando sem meu consentimento e vontade; assim o mando; e faço esta carta de salvo conduto, e a dou ao dito Mosteiro para que a possua para seu sossego…”.

Na frontaria do templo, mesmo por cima da porta principal, está gravada no granito uma inscrição latina que dá o ano de 559 como o da fundação da igreja. O teor da inscrição e, sobretudo, a indicação daquele ano como sendo o da fundação do templo suscitou e alimentou, durante anos, uma apaixonada discussão entre historiadores e investigadores que acabou com a conclusão de que a inscrição é apócrifa, portanto não verdadeira, e que terá sido ali colocada aquando de uma remodelação feita no templo e redigida sem qualquer fundamento histórico. Os mais antigos e fidedignos documentos que se conhecem, relacionados com o mosteiro de Cedofeita, remontam à Baixa Idade Média. São dois: uma bula do Papa Calisto II, datada de 1120, a qual apenas cita o mosteiro; e a carta de doação de D. Afonso II, do ano de 1218, na qual, com base em informações dos próprios abades e cónegos regrantes, o monarca faz saber que “D. Afonso, nosso senhor e avo (Afonso Henriques) reparara o dito mosteyro e anovadamente o dotara”.

O Couto

Não há dúvida de que existiu o «Couto de Cedofeita», apesar de alguns historiadores afirmarem que é falsa, que não existiu, a «Carta de Couto» que teria sido conferida por D. Afonso Henriques. Um documento datado de 1849 pormenoriza que o Couto começava no fim da Rua da Rainha (hoje de Antero de Quental), corria pelo Monte Pedral até ao Carvalhido, na Rua da Natária, e confrontava com Paranhos. Do Carvalhido seguia pela Rua da Carcereira até à Cova do Monte, fim da Quinta do Vanzeller, partia com Ramalde e com a estrada para Lordelo e vinha ao Douro. Acompanhava o rio até ao começo da Calçada de Monchique (que ficava já dentro do COUTO) e daí subindo à Rua dos Carrancas partia com Miragaia. Continuava até ao Adro dos Enforcados (traseiras do Hospital de Santo António) onde confrontava com Santo Ildefonso, seguia pelo Rua do Paço até à cerca dos frades do Carmo, Travessa do Carregal, chegava ao canto do Hospital do Carmo, circuitava a Praça dos Ferradores (hoje de Carlos Alberto) até ao cunhal do Palácio dos Balsemões, Rua das Oliveiras e Sovela, Campo de Santo Ovídio, Rua da Lapa e lado poente da Rua da Rainha até Paranhos. Todo este território, que hoje está incorporado no tecido urbano da cidade e intensamente povoado, era, ainda na segunda metade do século XVII, simples arrabalde campesino da cidade. Era tudo quintas, casais, campos de cultivo, hortas e soutos. Apenas o lugar de Massarelos, habitado por pescadores e mareantes, tinha alguma importância…

Quando se terá verificado a integração do Couto de Cedofeita no tecido urbano da cidade do Porto? A resposta, pelas razões já atrás várias vezes referidas (escassez de fontes e falta de documentos) não é fácil de dar. Mas é muito provável que a integração se tenha feito na transição do século XVI para o século XVII. Ou talvez antes. De certeza, sabe-se que a Mesa Grande da Relação, em 9 de Outubro de 1710, ampliou a área limitada pela Muralha Fernandina com as das freguesias contíguas: Vitória, Miragaia e Santo Ildefonso; e também com as de Massarelos e Cedofeita. Esta medida da Mesa Grande, que fixava os novos limites da cidade, já abrangia a área do Couto de Cedofeita

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